Velho Dia

Estes dias que se seguiram ao meu anterior artigo têm decorrido sem problemas. Mas eu acho que chegou a altura de me confessar perante alguém. Eu não sou nenhum enviado especial a Mulugal. Ninguém no seu perfeito juízo gastaria dinheiro para manda rum jornalista para o país da pasmaceira. É que não acontece nada. Não acontece rigorosamente nada. E há moscas. Mas eu vim para aqui porque calculei que, aqui, ninguém me conhecesse. Sabem como é… criar uma vida nova. Começar do zero. Recomeçar. Tudo palavras bonitas. Mas isto não tem sido como eu esperava. Todos os dias sou interrogado acerca do meu passado. O que fazia, o que não fazia. Sou tipo atracção de circo, sempre cheio de miúdos a pedir autógrafos e fotografias. Nem tenho tempo a sós com a minha Anamula. Ela é o meio de transporte. É tão querida. Esta sempre bem disposta e nunca reclama de nada.
Isto até tem paisagens bonitas. É um bonito país, que ainda não conheci todo. Mas tenho saudades de ver alguém que ande em duas patas. Estou aqui há tão pouco tempo e já estou a desanimar. Os próximos tempos não se adivinham nada bons. Principalmente porque onde me encontro, ainda não encontrei uma casa de banho privada, ou seja, que sirva só para um ser vivo de cada vez. Isto, por estes lados, parece os banhos romanos.

ola!


É a responsabilidade pessoal a relação que temos com o universo. Os Xamanes acham que a relação pessoal dos seres humanos com o universo é directa, sem nada que se entreponha, nem livros sagrados nem padres nem mesmo os xamanes. A ética… mas quem sou eu para falar de ética xamane. Só li um livro que dizia que os xamanes preservam a natureza. O conceito xamane é o equilíbrio entre a água (que depois de uma ressaca faz lindamente bem) o ar (sim que depois de matar uns faz lindamente bem) e a terra (onde se reproduz a cevada).
Depois desta pequena introdução aos xamanes, vou tentar obedecer ao meu dever de escrever sobre mim… ou do mulo como queiram.
Sim sou um mulo muito pouco obediente ficam já a saber, e principalmente não gosto nada do primeiro-ministro pois ele não apoia as mulas para participar na maratona dos cavalos e ainda por cima temos umas mulas jeitosas.
Chega de paleio roto, eu apresento-me como pessoa e aluno.
Sim eu sou ainda ando na escola acho que consegui passar para o 11º ano, não sei como mas lá estou, e ainda por cima logo no dia de apresentação na escola vêm uns tipos meios alegres devido a bebidas alcoólicas… e perguntam ” Ó rapaz anda aqui soprar no balão.”. Quem é que me pode explicar isto… vou para a escola e fazem-me isto.
Eu sou daquele tipo de alunos que não faz um caraças, porque não gosta nada mas mesmo nada de estudar, e ainda tenho um problema é que eu tenho uma fama de ser bêbado, mas quem me gasta o dinheiro todo em cerveja é o meu irmão.
Vá esses também não são os maiores problemas, e ainda por cima não me dou muito bem com raparigas nem com o futebol. Tento fazer muitas coisas mas acaba tudo em saco roto.





PS: eu tive muito trabalho a escrever isto por isso espero que leiam. Pff comentem.

Trabalho em Mulugal


Hoje foi um dia especial para mim cá em Mulugal. E por isso escrevo para este espaço de informação e opinião.
Como já tinha referido num texto anterior andava de olho na filha da mula da cooperativa. Uma mula jovem, bonita, dentro dos padrões, sorridente, simpática e prestável. Não foi amor à primeira vista, nem foi amor. Acho que não se pode chamar amor a uma relação entre duas espécies diferentes. Mas a verdade é que aquela mula me encantou. Hoje, depois da habitual fascina, encontrei-a a ler uma revista numa sala com palha, televisão e um cagadouro. A esta sala chamam recepção.
Os cagadouros são frequentes em Mulugal, são tipo as bocas-de-incêndio onde os cães fazem as suas necessidades. Haverá pelo menos um em cada rua. Sabe-se bem o que as mulas fazem às nossas estradas. Pois em Mulugal era capaz de suceder o mesmo. E, para não viverem numa lixeira, inventaram o cagadouro. É parecido com uma paragem de autocarro por fora. Por dentro não sei porque cheiro é insuportável e nunca entrei num. Tem um sistema de limpeza similar à nossa recolha do lixo. Todas as fezes e familiares que ali são depositados são recolhidos à noite.
Como eu estava a dizer, encontrei a tal mula e, puxando de toda a coragem que disponha, meti conversa. Comecei pelas habituais apresentações. Sei agora que se chama Anamula e que esta a meio da sua vida de mula, segundo a esperança média de vida de uma mula. Convidei-a para ser minha guia e para me mostrar as coisas interessantes que aqui existem.
Passamos uma tarde agradável e estou completamente seduzido pelo encanto desta mula. Sei que será o início de uma longa relação, não sei bem ainda de que é que será a relação.

Crónicas da mula do presidente de câmara I

Ser mula de um presidente de câmara não é nada fácil. Principalmente num município onde não há estradas alcatroadas nem carros. Tenho que andar sempre do edifício da câmara até casa do presidente. Digamos que de um sítio ao outro faço quinhentos passos com cada par de pernas. Isso por si só não seria nada. Mas vivo num município onde os enchidos abundam e as pessoas gostam bastante do presidente, porque também tem um talho, que faz promoções antes das eleições.

Isto para dizer que ele é bastante obeso.

O pior nem é isso. Se fosse só este facto estaria bem. Fechava os meus olhos de mula, sacudia as moscas com o rabo e lá ia eu o mais depressa possível. Mas não é assim que sucede. O que sucede é que ele faz questão de parar sempre que vê uma pessoa na rua. E põem-se na conversa. Cinco, dez minutos… para mais! E nunca se lembra de descer do meu lombo.

Outro problema é as moscas daquela terra. São tão chatas e cuscas que nem vos digo nem vos conto! Sempre a falar da vida alheia. E vêm todas ter comigo. Sou tipo a mediadora de uma tertúlia cor-de-rosa daqui do município de Rio Raposinha.

Comprimentos daqui da terra.

p.s. espero que algum mulo jeitoso leia as minhas crónicas.

A Mula da Cooperativa

A mula da cooperativa é a mula mais simpática que conheci até hoje. Ela gere a cooperativa de agricultores de uma localidade perto da capital de Mulugal. Assim sendo, e com a previsível expansão da capital, os muloagricultores começam a ser poucos. Mesmo com esta perspectiva pessimista, a mula da cooperativa continua a ser uma mula optimista. Recentemente, e para se adaptar melhor às necessidades do mercado, abriu uma pensão. É nesta pensão que me encontro alojado. A pensão chama-se: “pensão da mula da cooperativa”. A mula divide o seu tempo entre a cooperativa e a pensão. A filha da mula é que se ocupa da limpeza dos quartos, e devo dizer que é uma mula bastante jeitosa. Até já lhe pisquei o olho mais que uma vez.
Sem mais de momento, me despeço.

Apresentaçao

Quero desde já agradecer ao enviado especial do Mulugal por me ter convidado a ser a figura principal deste país. Com as minhas vastas qualidades serei a decoradora, estilista, relações públicas entre outras coisas. Prometo informar a todos as grandes novidades, o que se fala por esses campos fora, quais as festimulas mais in’s da semana e se ainda tiver tempo farei as previsões astrológicas. É tão difícil ser miomya, a mula mais vip!

Prólogo

Antigamente tratava-se da terra com a ajuda de animais como a mula. Havia nisto muitos benefícios: eram animais obedientes, não porque o quisessem ser, mas porque o castigo seria severo se não o fossem; nas alturas de fome podia-se sempre comer alguns deles. Os meus avós tinham uma mula. Era uma mula teimosa como muitos “mulos” e “mulas” (ponho entre aspas para não ofender nenhum animal que porventura venha a ler este blog, é que há animais e animais) de hoje em dia. Mas quando a minha avó proferia as palavras mágicas “eiooou com a entoação correcta, a mula parava imediatamente. Ora isto é uma lição para muitos. Principalmente aqueles que se julgam donos do país, como a mula se julgava da minha avó porque esta a alimentava quando a mula tinha fome. Lá por ser o país, e por país refiro todos os seus habitantes e respectivo território terrestre e marítimo, com a acumulação das ilhas, a alimenta-los e ser a este que eles roubam o dinheiro que eles põem ao bolso, não são eles os donos do país. Nós é que somos donos deles, e nós é que mandamos neles. Nós é que ordenamos, eles fazem o trabalho mais chato, o da papelada. Mas nós é que temos de mandar neles!